sábado, 16 de maio de 2009

A Esposa Sereia ( conto da Itália)


Há muito tempo, uma mulher casou-se com um marinheiro, porém ele ficava longe de casa a maior parte do tempo, velejando pelos mares.
Um dia, quando ele estava fora, a esposa viu o rei que passava a cavalo e os dois se apaixonaram. Ela foi viver com o rei, e quando o marido voltou, encontrou sua casa fria e vazia.
Em pouco tempo, o rei e a mulher cansaram-se um do outro e ela voltou para casa. Suplicou ao marido que a perdoasse, mas ele enfurecido, lançou-a no mar e gritou: “mulher infiel!” – Essa é a punição que você merece!
Logo a seguir, ele recuperou o juízo e se perguntou: - O que foi que eu fiz? Estou matando a única mulher que amo. Tentou salvá-la, no entanto, ela já sumira nas profundezas das águas. Ele voltou para casa com o coração partido.
A mulher caiu entre as sereias, que estavam no seu jardim de coral e pérolas. Quando as sereias viram a mulher, exclamaram: “Que mulher linda!” Levaram-na para seu palácio e a reanimaram com suas mágicas.
Você será uma de nós, disseram as sereias e seu nome será ‘Espuma’. Pentearam seu cabelo, perfumaram seu corpo e a adornaram com pérolas. A seguir fizeram uma festa em sua homenagem. Ela dançou a noite toda no salão do palácio entre lindas sereias. Daí em diante, viveu no luxo e na alegria do fundo das águas.
Um dia lembrou-se do seu marido e encheu-se de tristeza, pois ainda o amava. Sentiu vontade de vê-lo novamente. As sereias perguntaram o que a atormentava. – Não é nada, disse ela, mas seu semblante estava muito triste e as sereias vendo-a sofrer não suportaram. Resolveram levá-la para a superfície para cantarem ao luar suas canções mágicas. Com essas canções elas faziam marinheiros caírem na água e os transformavam em moluscos e caranguejos.
Certa noite, enquanto as sereias cantavam, um homem saltou nas águas e a esposa logo reconheceu seu marido. Vamos torná-lo um camarão, exclamaram as sereias.
- Não, não, interrompeu a esposa.
- O que você quer com ele, Espuma?, perguntaram as sereias. Ela teve uma idéia. – Eu quero tentar uma mágica, eu mesma. As outras concordaram. Prenderam o homem no palácio e foram dormir.
A esposa foi, secretamente, até o aposento em que ele estava e cantou do lado de fora. O marido acordou e logo reconheceu a voz da esposa. Você está viva, disse ele e pediu-lhe que o perdoasse. Ela disse que já o perdoara há muito tempo, porém você deve ficar quieto. Se as outras acordarem irão fazer-lhe mal. Voltarei aqui mais tarde e o libertatarei. Foi ver se todas estavam dormindo e depois voltou e libertou o marido, levando-o para a superfície e o deixando-o em segurança. Logo, um navio passou por perto e ela mandou que ele fizesse sinal para que o resgatassem. Não posso ir com você, disse ela, agora sou uma sereia e, se sair da água, morrerei. Em seguida mergulhou e desapareceu. Ele gritou desesperado e os marinheiros do navio ouviram e vieram salvá-lo. Ele contou sua história, mas ninguém acreditou, acharam que ele tinha perdido o juízo. Levaram ele de volta para sua casa. Ele ficou muito inquieto,dia e noite só pensava na esposa.
Certo dia, imerso em seus pensamentos, saiu andando pela floresta e aproximou-se de uma nogueira, em torno da qual diziam que as fadas dançavam.
- Por que você está tão triste, meu bom homem? Perguntou uma velha que saíra de trás da árvore. Ele se assustou, mas contou-lhe tudo que estava passando.
A velha disse que poderia ajudá-lo, mas não era uma tarefa fácil
- Farei qualquer coisa, disse ele.
A velha então falou: - Primeiro você tem que me trazer a ‘flor’ que cresce no palácio das sereias, a qual elas chamam de ‘a mais linda flor’ . Traga-a para mim e sua esposa sairá salva do fundo do mar.
Ele coçou a cabeça, pensando como conseguiria esta flor do fundo do mar.
- Bem, disse a velha, isso você tem que resolver e desapareceu atrás da árvore.
Ele, finalmente, jogou-se na água e, no meio do oceano, chamou pela esposa. Quando ela apareceu na superfície, ele contou-lhe sobre a proposta da velha. A esposa disse-lhe que não podia fazer isso, porque as sereias haviam roubado a ‘flor’ das fadas há longo tempo. Se a perderem, morrerão e eu também, porque agora sou sereia.
Não disse ele, a velha e as fadas vão salvá-la.
Ela disse que ia pensar e pediu que ele voltasse no dia seguinte.
No dia seguinte, ele voltou e ela falou que para conseguir a ‘flor’, precisava de sua ajuda, ou seja, ele tinha que vender tudo o que possuia e com o dinheiro comprar as mais lindas e preciosas jóias. Depois pendurá-las no seu barco e içar as velas. As sereias não conseguem resistir a jóias e certamente o seguirão. No momento que você levá-las para longe, eu colherei a ‘flor’.
Ele voltou à cidade, vendeu o que tinha, comprou lindas e preciosas jóias, pendurou-as em seu barco e foi para o meio do oceano. As jóias atraíram as sereias e elas o seguiram para bem longe. Subitamente, o oceano tremeu e o mar se abriu. As sereias morreram, imediatamente. O oceano tremeu novamente, o marinheiro estava atônito, mas diante dele apareceu a velha da floresta, no dorso de uma grande águia. Atrás dela vinha sua esposa, sã e salva. A velha levou-a para a casa deles e quando ele chegou, abraçaram-se e renovaram os votos de amor para sempre!.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A Mulher sem Mãos (conto do Japão)


Era uma vez uma linda menina que vivia feliz com seus pais, mas sua mãe morreu quando ela tinha apenas quatro anos. Algum tempo depois, seu pai casou-se novamente, mas sua nova esposa tinha ciúmes da menina e tornava sua vida muito difícil.
A menina cresceu e se tornou uma linda donzela o que levou sua madrasta a odiá-la ainda mais.
Assim, a esposa começou a levar ao marido intrigas sobre sua filha, e aos poucos fez com que o coração dele se voltasse contra a moça.
Logo após a jovem completar quinze anos, a madrasta ameaçou o marido dizendo: - Não posso continuar a viver com sua filha malvada! Vou abandoná-lo!
O marido suplicou que ela ficasse. Então, livre-se de sua filha, ela exigiu. Ele prometeu fazê-lo e elaborou um plano. Convidou a filha para acompanhá-lo numa festa, lhe deu um lindo quimono para vestir. Ela ficou muito contente, mas ao mesmo tempo intrigada, quando o pai a conduziu até a floresta.
- Onde é a festa?, ela perguntou.
- Um pouco mais adiante, ele respondeu.
Então, no meio da floresta, ele parou para almoçarem e a filha caiu no sono. Era o momento que o pai esperava. Pegou um machado que levara, aproximou-se e decepou-lhe as mãos. A jovem acordou e gritou de dor.
- Pai, o que está fazendo?
Ele, rapidamente afastou-se dali e abandonou a pobre moça.
Completamente sozinha, ela rastejou até um riacho e lavou os cotos. Sem lugar para ir, permaneceu na mata, colhendo frutas com os dentes e dormindo no chão.
Um dia, um lindo rapaz foi caçar na floresta. Encontrou a jovem sem mãos e ficou surpreso. Você é um demônio ou fantasma?
Não, ela respondeu, sou uma jovem abandonada. Mas nada disse sobre o pai. O rapaz ficou com pena dela, colocou-a em seu cavalo e levou-a para casa. Encontrei essa criatura na floresta, disse para a mãe. A mulher acolheu a moça sem mãos em sua casa, deu-lhe roupas limpas e refeita a jovem mostrou como era linda e o rapaz caiu de amores por ela. Propôs que se casassem e ela aceitou.
A jovem estava esperando um filho quando o marido teve que partir para uma demorada viagem . Ele confiou a esposa à sua mãe. Cuide dela como se fosse de mim. Cuidarei, disse a mãe. Eu a amo tanto quanto você.
A jovem deu à luz um lindo menino. A avó logo escreveu ao filho contando e dizendo que a esposa passava bem e esperava ansiosa o seu regresso. Pediu a um mensageiro para levar a carta ao filho. Ele andou o dia todo e, já muito cansado, bateu em uma casa pedindo água. Uma mulher deu-lhe de beber e começou a conversar, perguntando onde ele ia com tanta pressa?
Estou levando uma notícia importante para o filho de uma senhora. A nora dela, a mulher sem mãos, deu à luz um menino e ela quer que o filho saiba.
A dona da casa era a madrasta má, e no mesmo instante, ela se deu conta de que a enteada não morrera na floresta. Cheia de ódio pensou num plano. Deu muito vinho ao rapaz, até que ele dormisse e aí abriu a sacola dele e retirou a carta que ele levava e trocou por outra escrita por ela. Disse que a esposa dera à luz um monstro horrível. O que faço? Colocou a carta na sacola e quando o rapaz acordou ela deu-lhe um prato de comida e ele seguiu viagem.
Passe aqui quando voltar, disse ela ao rapaz.
Ao receber a carta o marido leu com horror, e respondeu. Por favor, cuide de minha esposa e de meu filho, seja qual for a aparência dele. Voltarei assim que puder.
O mensageiro voltou e parou na casa da madrasta esperando beber mais vinho. Ela serviu-lhe mais vinho, até ele cair no sono. Pegou a resposta e mudou por outra. Livre-se de minha esposa e de meu filho, não quero ter monstros em minha família. Não voltarei se eles ficarem aí!
Quando o mensageiro entregou a carta à mãe do rapaz, ela ficou incrédula. Mas isso não pode ser! Meu filho não mandaria embora a esposa e o filho! Perguntou ao mensageiro se era essa carta mesmo, e se ele não parou em lugar nenhum.
Não, disse ele.
A mãe resolveu esperar o filho voltar, mas conforme o tempo poassava, ela começou a temer que ele não voltaria mais. Mostrou a carta à nora e ela ficou com o coração partido, mas disse: - Se meu marido não me quer , não ficarei aqui!
As duas choraram muito ao despedir-se e a moça sem mãos partiu com uma sacola às costas onde seu filho estava. A coitada não tinha para onde ir e voltou para a floresta. Estava com sede e ajoelhou-se para beber num riacho, mas inclinou-se demais e o bebê começou a deslizar de sua costas. Socorro! Socorro! Ela gritava, mas não tinha mãos para pegá-lo e o bebê caiu na água do riacho. Ela mergulhava os braços, desesperadamente na água para tentar salvar o filho. De repente, suas mãos reapareceram e ela segurou o filho e o salvou.
Meu filho está salvo e minhas mãos voltaram a ser como antes!, exclamou ela feliz. Ajoelhou-se e agradeceu.
Nesse ínterim, o marido voltou para casa e ficou chocado ao descobrir que a esposa partira com o filho deles. A mãe disse: - foi você mesmo quem mandou que isso fosse feito! O que a senhora está dizendo!, mas logo perceberam que alguém trocara as cartas. Chamaram o mensageiro e fizeram que ele contasse a verdade, sobre sua parada antes de entregar as cartas.
O marido partiu, imediatamente para a floresta em busca da esposa e do filho. Procurou por muito tempo. Então, chegou perto do riacho e viu uma mulher rezando ao lado de um santuário, com uma criança no colo. Olhou e achou-a parecida com a esposa, mas viu que ela tinha mãos. Aproximou-se dela e, muito feliz, descobriu que ela era a sua esposa.
Minha esposa!, disse ele.
Meu marido!, e se abraçaram. Ele explicou da troca das cartas e ela contou como suas mãos tinham voltado milagrosamente. Ela contou-lhe também, que quem tinha feito aquilo com ela, decepar-lhe as mãos, tinha sido seu pai.
Os dois voltaram de mãos dadas para casa com o filho nos braços.
Chegando em casa o marido procurou as autoridades e contou-lhes a verdade sobre a madrasta e o pai da mulher.
Os dois foram punidos e, assim, o casal pode viver feliz, junto do filho e da mãe dele.


Nota: Este conto apresenta algumas características encontradas em outros de diversos países. Isso reforça a tese que os contos fazem parte do inconsciente coletivo e em cada lugar eles apresentam algumas mudanças, mas sempre são maniqueistas e com um final de punição para os personagens que só fazem o mal.