domingo, 22 de agosto de 2010

Feche este blog e abra um livro!

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Pelo bem do nosso país, pelo bem da educacão, desligue a TV e o PC e abra um bom livro! Leia mais!

sábado, 24 de julho de 2010

As Duas Irmãs


(IRMÃS E LIBERTAÇÃO) – CONTO DA NAÇÃO IGBO – ÁFRICA)



Há muito tempo, duas irmãs, Omelumma e Omeluka, adoravam brincar ao ar livre, rir e correr para todo lado. Certo dia, seus pais saíram para a feira que era um pouco longe de casa, e recomendaram: - Cuidado com os animais da terra e do mar, porque muitas pessoas já foram levadas pelos monstros. Fiquem dentro de casa e não façam muito barulho. Quando fizerem comida, acendam um fogo pequeno, para que a fumaça não atraia os animais. E, quando secarem os grãos, façam em silêncio, para que os monstros não ouçam.

Porém, disse o pai, o mais importante, é que não saiam para brincar com outras crianças. Fiquem dentro de casa. As duas concordaram com tudo. Acenaram em despedida quando os pais se afastaram.

Ficaram dentro de casa a manhã inteira, mas conforme as horas iam passando, aumentava a sensação de fome. Então, começaram a socar os grãos para fazer uma papa, e aquilo virou logo uma brincadeira. Elas riam e faziam muito barulho. Aí acenderam um grande fogo para que a comida ficasse pronta mais depressa, esquecendo-se da advertência dos pais.

Após comer até se fartar, as duas viram os amigos brincando no campo e foram correndo brincar com eles.

Enquanto brincavam, um rugido imenso saiu de dentro da mata e outro veio do mar, aparecendo muitos monstros que cercaram as crianças. Aterrorizadas, as duas correram, mas foram separadas. Os monstros do mar carregaram Omelumma e os da terra Omeluka.

As duas pensaram, - se tivéssemos ouvido nossos pais. Agora seremos devoradas pelos monstros. Porém, eles não as devoraram, mas as venderam como escravas em lugares muito distantes de sua terra.

Omelumma foi escolhida por um homem, que comprou-a e casou-se com ela.

Omeluka, mais jovem, não teve a mesma sorte. Foi escolhida por um homem cruel, que a comprou, mas a fez de escrava, dando-lhe muitas tarefas dia e noite. Passado um tempo ele vendeu-a para um outro homem ainda pior do que ele que a maltratava ainda mais. Assim, passaram-se muitos anos.

Enquanto isso, Omelumma vivia confortavelmente com o marido e deu à luz seu primeiro filho, um menino. O marido foi ao mercado para encontrar uma escrava que pudesse ajudá-la nas tarefas com o bebê e a irmã, Omeluka, estava lá, para ser vendida.Assim, ele trouxe Omeluka para ser escrava da irmã, mas ela estava muito mudada, devido aos maus tratos que sofrera e Omelumma não reconheceu-a.

Todas as manhãs, Omelumma ia para o mercado e entregava o bebê aos cuidados da irmã, deixando também, muitas tarefas para serem realizadas. Omeluka se desdobrava, mas era muito serviço. Quando ia buscar água ou lenha, o bebê ficava em casa, todavia seu choro a trazia rapidamente de volta, e assim não trazia a lenha suficiente. A irmã quando chegava a surrava por não ter cumprido suas ordens, mas se ela deixava o bebê chorando, os vizinhos contavam e ela apanhava do mesmo jeito. Ela tentou levar o bebê quando ia pegar lenha, mas não deu certo, porque não conseguia fazer o serviço com ele no colo.

Certa tarde, o bebê só interrompeu o choro, quando ela o colocou no colo e o embalou suavemente. Uma vizinha aproximou-se perguntando por que ela não fazia suas tarefas. Ela ficou com medo de ser denunciada e voltou ao trabalho. Mas o bebê começou a chorar e ela não teve saída senão se sentar e começar a embalá-lo de novo. Não sabendo mais o que fazer, finalmente entoou uma canção:

Shsh, shsh, bebezinho, não chore mais
Nossa mãe nos disse para não fazer fogo grande,
Mas nós fizemos
Nossa mãe nos disse para não fazer barulho,
Mas nós fizemos.
Nosso pai nos disse para não brincar lá fora,
Mas nós brincamos.
Então os monstros do mato e do mar nos levaram embora,
Para muito longe, muito longe!
E onde pode a minha irmã estar?
Muito longe, muito longe!
Shsh, shsh, bebezinho não chore mais.

Uma velha que ouviu aquela cantiga, lembrou-se da história que Omelumma lhe contara, há muito tempo, sobre terem sido levadas pelos monstros do mar e da terra. Ela percebeu que a escrava devia ser a irmã de Omelumma, há tanto tempo sumida. Correu até o mercado para contar a novidade à Omelumma.

No dia seguinte, ela deu várias tarefas à irmã e em seguida saiu, para o mercado. Mas voltou em segredo e viu como a irmã corria de um lado para o outro tentando impedir o bebê de chorar enquanto fazia seu serviço. Finalmente a irmã sentou-se e começou a cantar a canção que a velha escutara.

Assim que Omelumma ouviu a canção, reconheceu que era sua irmã e, chorando de dor e remorso, chegou perto dela para pedir perdão.

As duas se abraçaram e choraram juntas. Em seguida Omelumma libertou a irmã, jurou nunca mais maltratar nenhum servo e quando o marido chegou também ficou muito feliz ao saber da novidade. Viveram depois disso, muito felizes.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A Esposa Sábia

(ASTÚCIA E CORAGEM – CONTO DO IRAQUE)

Era uma vez, um seleiro e sua esposa, que viviam com suas três filhas. O homem trabalhava bastante e, ao longo dos anos, economizou muitas moedas de ouro, colocando-as dentro de uma sela e a costurou como medida de segurança.
Tempos depois, vendeu esta sela por engano e só descobriu o erro muito depois que o cliente saiu da sua loja e da cidade.
Um ano depois, o cliente voltou para consertar a sela. O seleiro não podia acreditar na sua sorte, quando encontrou suas moedas ainda dentro da sela. Recuperou seu tesouro e criou uma canção para celebrar a sua fortuna e todos os dias a entoava:

Escondi e perdi
Esperei e encontrei
É meu pequeno segredo
E ninguém mais o conhecerá.

Certo dia, o sultão passou pela sua loja e ouviu a canção. Perguntou qual era o seu segredo.
- Se eu lhe contasse, disse o seleiro, não seria mais um segredo!
O monarca não desanimou e ordenou: - Sou sultão e ordeno que me conte seu segredo. O seleiro recusou novamente.
Então, o sultão perguntou-lhe se tinha família.
- Uma boa esposa e três filhas, ainda solteiras, respondeu o seleiro.
Nesse caso, ordenou o sultão, traga suas filhas amanhã no meu palácio e providencie para que as três estejam grávidas. Caso contrário, cortarei sua cabeça.
Mas majestade! Exclamou o seleiro horrorizado, minhas filhas são ingênuas e virgens, como podem ficar grávidas? E, se isso acontecer, quem se casará com elas? Estarão arruinadas por toda a vida.
Esse problema é seu, disse o sultão, rindo e se afastando.
O homem voltou para casa desesperado. Sua filha mais jovem, a mais sábia das três, viu a aflição do pai e perguntou o que o afligia. Ele explicou o problema.
A filha pensou por um momento e disse: - Não se desespere meu pai. Compre três vasilhas de água e eu mostrarei ao sultão como três virgens podem ficar grávidas.
Na manhã seguinte, a mais jovem, colocou sob seu vestido a vasilha e mandou que as irmãs fizessem o mesmo, instruindo-as do que deviam fazer quando chegasse ao palácio do sultão.
Quando chegaram o sultão perguntou à mais velha.
Há quanto tempo você está grávida? Do que tem mais desejo?
Ela curvou-se e disse: Estou grávida há três meses, e o que mais desejo são pepinos salgados.
Ele fez a mesma pergunta para a segunda que respondeu estar grávida de seis meses e que desejava beringelas picantes.
Quando ele falou com a mais jovem, ela disse que podia dar à luz a qualquer momento e o que mais desejava era peixe assado sob os sete mares.
Mas como se pode assar peixe debaixo da água? Ele perguntou. Isso é impossível.
A jovem respondeu que da mesma maneira como uma virgem pode engravidar e as três saíram do palácio, rapidamente.
No dia seguinte, o sultão chamou uma velha e entregou-lhe uma bolsa cheia de ouro pedindo que ela fosse até o seleiro e pedisse a mão da filha mais jovem em casamento. Ele pensou: - Uma mulher esperta como esta deve ser minha esposa.
Quando a velha olhou dentro da bolsa e viu ouro, roubou duas moedas. Chegou à casa do seleiro e a mais jovem abriu a porta.
- Sua mãe está em casa?
- Não, a jovem respondeu. Ela está transformando um em dois.
A velha não entendeu a resposta e disse. – Deixe-me falar com sua irmã mais velha.
- Ela está mudando o preto em branco, disse a jovem.
A velha insistiu. E sua irmã do meio?
- Ela está colhendo rosas.
Mas é inverno, falou a velha. Não há rosas em lugar algum! Ela pensou que a jovem era louca.
Aqui está um presente do sultão para você, disse a velha entregando-lhe a bolsa de moedas.
A jovem contou as moedas e devolveu a bolsa à velha, dizendo: - Tenho um recado para o sultão. Pergunte o seguinte: Quando se dá um carneiro de presente, corta-se-lhe a cauda?
A velha balançou a cabeça de novo, voltou até o sultão e contou o que a jovem lhe dissera e disse: - Tenho a impressão que a jovem é louca!
Ela não é louca, disse o sultão, ela é realmente astuta e perfeita para minha esposa. Quando disse que a mãe saíra para transformar um em dois, queria dizer que a mãe era parteira, e tinha ido fazer um parto. A irmã mais velha estava mudando o preto em branco, é esteticista e estava arrancando o pelo do corpo de alguma mulher. A irmã do meio, que colhia rosas no inverno,estava bordando flores num tecido. Quanto a cauda do carneiro, ela queria dizer que você roubou dinheiro da bolsa que lhe entreguei! Nunca mais faça isso, ou eu a punirei.
No dia seguinte, o sultão mandou a velha de volta, e outra proposta de casamento e. dessa vez, o seleiro e a filha mais jovem aceitaram.
O casamento foi celebrado logo, mas naquele mesmo dia, quando a esposa esperava em seu quarto, o sultão partiu para a guerra contra a terra de Siin.
A esposa esperou-o, mas como ele não aparecia, perguntou aos servos onde ele havia ido. Sentou-se pensativa e depois, retirou a roupa do casamento e colocou um uniforme de general, reuniu um exército e partiu, atrás do sultão.
Vários dias depois, ela encontrou as tropas do marido acampada à margem de um rio. Reuniu seu exército do outro lado e, em seguida enviou um mensageiro até o sultão, desafiando-o para uma partida de xadrez. Quando os dois se encontraram ele não a reconheceu e ela, ganhou a primeira partida. Como prêmio ela exigiu a adaga cravejada de pedras preciosas do sultão. Ele lhe entregou e jogaram outra partida e ele venceu e exigiu a adaga de novo.
Sugiro um prêmio melhor, disse ela. Tenho uma linda escrava, virgem, e deixarei que passe a noite com ela. O sultão concordou.
Ela saiu da tenda, tirou o uniforme, adornou-se com jóias e foi até ele. Ele ficou deliciado com a beleza da jovem e não reconheceu a esposa. No dia seguinte ela voltou para casa com seu exército, enquanto o sultão partia para a guerra de Siin.
Nove meses depois, a jovem deu à luz a um menino, que chamou de Siin.
Dois anos depois, o sultão voltou da guerra, mas só falou rapidamente com a esposa, pois tinha que partir para outra batalha, na terra de Masiin.
No dia seguinte, a esposa despiu os mantos, envergou um uniforme de general e comandou, novamente o seu exército. Quando chegou perto das tropas do sultão, mandou um arauto desafiá-lo para uma partida de xadrez.
Mais uma vez ele aceitou. Ela ganhou a primeira partida e pediu-lhe seu colar de orações. Ele venceu a segunda e ela fez a oferta de uma escrava, mas disse que esta só esteve com um homem uma única vez. Ele podia ter uma noite com ela. Ele concordou e mais uma vez não a reconheceu. No dia seguinte ele partiu para Masiin e ela voltou com seu exército para casa.
Nove meses depois nasceu outro menino, que ela chamou de Masiin.
Um ano depois, o sultão regressou e, mal olhou para a esposa, já estava sendo chamado para nova guerra. Assim, ele partiu para a batalha de Gharb. Mais uma vez ela repetiu toda a história e desta vez quando ganhou a partida ela pediu o turbante do sultão. Ofereceu a ele desta vez uma escrava que conhecia as artes do amor. No dia seguinte quando ele partiu ela voltou para casa e, nove meses depois, deu à luz a uma menina que chamou de Gharb.
Três anos se passaram antes que o sultão voltasse para casa. Ele quando chegou não falou com a esposa porque decidira casar-se com uma nova esposa, que seria uma princesa, mais adequada a condição dele do que a filha de um seleiro.
Quando chegou o dia do casamento, a jovem filha do seleiro, vestiu os três filhos com elegância e entregou ao mais velho a adaga, ao do meio o colar de orações e na mais nova colocou o turbante. Depois ensinou a eles uma canção.
Pouco antes do início do casamento, as crianças apareceram diante do sultão e cantaram:

Ele vence na guerra

Vence no xadrez
Vence no amor
Vence em sua busca
Nosso pequeno segredo
Ele o descobrirá?

O sultão olhou para as três crianças e reconheceu seus bens. Olhou fixamente para a esposa e aí percebeu o que ela fizera.

Você foi os três generais que me desafiaram e também as escravas que dormiram comigo? E, estes são meus filhos?
Ela confirmou com a cabeça.
Ele cancelou o novo casamento e voltando-se para a esposa, disse:
Você é a mais astuta mulher do mundo. Os dois se abraçaram e foi dada uma grande festa. Deste dia em diante, viveram felizes com os três filhos e muita sabedoria... da parte dela!!!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Dona Ôla (irmãos Grimm)

Uma viúva tinha duas filhas, das quais uma era bela e inteligente, a outra feia e preguiçosa. Mas ela gostava muito mais da feia , porque era a sua própria filha , e a outra tinha de fazer o trabalho da casa e ser a criada da casa. A pobre moça era obrigada a ir todos os dias para a rua, sentar-se na beira de um poço e fiar até que seus dedos sangrassem.
Aconteceu, certo dia , que a bobina ficou ensanguentada, e, por isso, ela se debruçou sobre o poço para lavá-la, quando a bobina lhe escapou da mão e caiu dentro do poço. A moça correu chorando para a madrasta e contou-lhe sua desgraça. Esta, porém, lhe passou uma descompostura tão violenta, e foi tão impiedosa, que disse:
- Se deixaste a bobina cair no poço, agora vai e traze-a de volta!
A pobre moça voltou para o poço, sem saber o que fazer. E, na sua grande aflição, pulou para dentro, para buscar a bobina. Ela perdeu os sentidos, e quando acordou e voltou a si, viu-se num lindo campo inundado de sol e coberto de flores. A moça foi andando por esse campo , até chegar a um forno que estava cheio de pão. E o pão gritava: - Ai, tira-me, tira-me, senão eu queimo , já estou assado há muito tempo. Então ela se aproximou e com a pá tirou os filões de dentro do forno.
Continuou o caminho , e chegou a uma árvore que estava coberta de maçãs, que gritava: - Ai, sacode-me , sacode-me, nós, maçãs, já estamos maduras. Então ela sacudiu a árvore até as maçãs caírem e não ficar nenhuma na árvore. E, depois de arrumar todas as maçãs num monte, continuou o caminho.
Finalmente, ela chegou até uma casa pequenina, da qual espiava uma velha, que tinha dentes muito grandes e a moça ficou com medo e quis fugir, mas a velha gritou-lhe: - De que tens medo minha filha? Fica comigo. Se fizeres os trabalhos da casa direito estarás muito bem. Só precisas prestar muita atenção ao arrumar minha cama, sacudindo o acolchoado com vontade, até que as penas voem, então cai neve no mundo. Eu sou a dona Ôla.
Como a velha lhe falava mansamente, a moça criou coragem e entrou na casa para o serviço. Ela cuidava de tudo a contento da velha, e sacudia o acolchoado com vontade, até que as penas voassem como flocos de neve. Por isso tinha uma vida boa junto da velha , comia bem todos os dias.
Depois de viver com dona Ôla por um tempo a menina começou a entristecer.
No começo, nem ela mesma sabia o que lhe faltava, mas finalmente percebeu que sentia saudades, embora aqui passasse mil vezes melhor que na sua própria casa, mas mesmo assim ela sentia saudades.
Finalmente ela disse à velha:
- A saudade me pegou e mesmo que eu passe aqui embaixo tão bem , não posso continuar. Tenho que subir e voltar para os meus.
A dona Ôla lhe disse:
- Agrada-me saber que tu queres voltar para casa, e como tu me servistes tão fielmente , eu mesma vou te levar para cima. Ela tomou a mão da moça e levou-a para um grande portão. O portão se abriu e, quando ela estava bem debaixo dele, caiu uma forte chuva de ouro, e o ouro ficou pendurado nela, e ela ficou toda coberta de ouro.
- Isto é para ti, porque foste tão diligente , disse a velha e devolveu-lhe também a bobina que caíra no poço. Então o portão se fechou e a moça chegou novamente na superfície da terra e quando chegou ao pátio da casa, o galo que estava pousado no poço gritou:

“Cocoricó, cocoricó,
A donzela de ouro está aqui!”

Então a moça entrou em casa, foi bem recebida pela irmã e pela madrasta por estar coberta de ouro.
A moça contou tudo o que lhe acontecera , e quando a madrasta soube como ela chegara a tanta riqueza, quis arranjar a mesma sorte para a sua filha feia. Ela deveria sentar-se na beira do poço e fiar, para que a bobina caísse ela precisaria picar seu dedo, mas ela meteu o dedo no espinheiro para ensanguentá-lo, aí jogou a bobina e pulou atrás.
Ela chegou, no lindo campo e continuou a caminhar. Chegou perto do forno e o pão gritou para ser retirado do forno pois já estava muito assado. Mas a preguiçosa respondeu:
- Não tenho vontade de me sujar, e foi embora.
Logo chegou perto da macieira que pediu que ela a sacudisse para as maçãs caírem porque estavam maduras. Mas ela respondeu:
- Não faço isso, pois pode cair uma na minha cabeça, e continuou no caminho.
Quando chegou à casa de dona Ôla, não ficou com medo porque já ouvira falar dos seus dentes , e logo se engajou no serviço dela. No primeiro dia foi diligente e fez tudo direito pensando no que ia ganhar.
Porém, no segundo dia ela começou a ficar preguiçosa e no terceiro ela nem queria se levantar da cama e nem arrumar a cama de dona Ôla como devia e as penas não voaram. Aí dona Ôla cansou-se dela e a despediu. A preguiçosa ficou contente e pensou que agora viria a chuva de ouro .
Dona Ôla levou-a até o portão, a moça ficou embaixo dele, mas em vez de ouro foi despejado um grande pote de piche em cima dela.
- Isto é a recompensa pelos teus serviços, disse dona Ôla e trancou o portão.
Ela voltou para casa , mas toda coberta de piche e o galo cantou:

“Cocoricó, cocoricó,
A donzela suja está aqui!”

Mas o piche ficou grudado nela e não saiu por toda a sua vida!!!!!

domingo, 17 de janeiro de 2010

A PROFECIA (conto russo)


O valoroso príncipe Oliêg se preparava para mais uma campanha, desta vez em represália contra a tribo hostil dos kazares, que haviam assaltado suas terras. À testa de intrépida hoste de guerreiros, ele partiu, montado no seu garboso corcel de guerra, companheiro fiel de muitas refregas, do qual nunca se separava.

A caminho do campo de batalha, veio-lhe ao encontro, surgindo da floresta escura, um venerando mago vidente. O sábio eremita passara toda a vida em prece e meditação, e podia ver o passado e prever o futuro. Oliêg aproximou-se do ancião e, do alto da sua nobre montaria, dirigiu-lhe a palavra.

- Dize-me , ó mago, favorito dos deuses, o que me reserva a vida? Qual será o destino que espera por mim, que me aguarda na paz e na guerra? Revela-me toda a verdade, ancião. Não tenhas medo de mim. E em recompensa eu te darei qualquer um dos meus belos corcéis.

O velho mago então retrucou em voz serena e severa:

- Os magos não temem guerreiros nem reis, e dispensam os dons principescos. Sua língua é sábia, livre é o seu falar, que obedece à vontade dos deuses. O futuro se oculta nas sombras , porém o teu fado eu leio em tua fronte.

-Fala, pois, mago! – Oliêg retrucou. E o mago continuou:

- Marca, ó príncipe, o que aqui te direi: nas guerras, serás vitorioso. Tua fama e glória o mundo atroarão. Nem flecha, nem lança ou espada, nem punhal traiçoeiro jamais vararão a tua brilhante armadura. Um guardião invisível te protegerá, por teus longos anos de vida.

O corcel de Oliêg sacudiu impaciente a bela cabeça altiva. E o mago então voltou a falar:

- Lembra, príncipe, as minhas palavras: teu cavalo não teme perigo nem dor, sentindo a vontade do dono , ora para imóvel sob flechas hostis ora galopa veloz, destemido. Teu cavalo, Oliêg, te é fiel e leal. Mas tua morte advirá do teu belo corcel.

Uma sombra passou pelo rosto de Oliêg. Pensativo e taciturno, da sela ele desceu e acariciou a crina esvoaçante do seu brioso alazão.

- Adeus , meu amigo, meu servo fiel, devemos nos separar. Descansa agora, pois meu pé não mais pisará no teu estribo dourado. Adeus, não entristeças, não te esqueças de mim!

E Oliêg ordenou a dois jovens guereiros que levassem embora o vavalo.

- Levai meu corcel, meus jovens amigos. Agasalhai-o com a manta felpuda e soltai-o no meu campo relvado. Banhai-o, alimentai-o com os mais finos grãos, dai-lhe a beber água pura da fonte, para que ele tenha uma vida feliz, em liberdade e fartura.

E os querreiros levaram o alazão, e trouxeram a Oliêg outra montaria.

Passaram os anos. O grande Oliêg banquet eava-se com sua guerreiros, já grisalhos como ele. As canecas espumantes se erguiam em roda, e os velhos companheiros cantavam e bebiam, recordando os dias pregressos e as batalhas que juntos tinham travado.

De repente, opríncipe se lembrou do fogoso corcel do qual tivera de se separar havia tanto tempo, e falou:

- Dizei-me, amigos, o que foi feito do meu garboso ginete? O meu velho companheiro ainda galopa livre pelo campo? Ainda é ligeiro e fogoso como antes?

E o herói ouviu em resposta que o seu bravo e leal cavalo de batalha havia muito dormia o sono eterno ao pé da colina, junto ao rio. E o poderoso Oliêg deixou pender a cabeça, e lamentou:

- De que valeu a profecia do mago? Mago, és um velho mentiroso e louco! Eu devia ter desprezado o teu vão vaticínio, e o meu alazão me carregaria até o dia de hoje...

E Oliêg quis ver os restos do seu antigo companheiro, e, juntamente com seus guerreiros, foi até o lugar indicado. E lá ele viu, branquejando em meio ao capim balouçante, os nobres ossos do seu corcel.

Taciturno, o príncipe apoiou um pé sobre o alvo crânio do cavalo, e falou tristemente:

- Dorme em paz, meu solitário amigo! O teu velho dono te sobreviveu. Não serás tu que , nas minhas exéquias já não tão distantes, acompanharás para a sepultura este velho guerreiro, e regarás com teu sangue os meus restos mort ais no sacrifício final!

– E acrescentou, amargurado:- Então era aqui que se ocultava o meu fim? Ameaçava-me pálida ossada?

Mas enquanto ele falava , pensativo e absorto, da fria caveira esgueirava-se , sinuosa, uma serpente tumular. Qual fita negra, ela se enroscou no pé de Oliêg... e um grito súbito escapou do príncipe ferido de morte...

As canecas espumantes se erguiam em roda no banquete fúnebre em memória do

príncipe Oliêg. Os guerreiros grisalhos bebiam e cantavam, recordando os dias pregressos e as batalhas que juntos tinham travado.

E assim se cumpriu a profecia do mago!