quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A MÃE E O DEMÔNIO

( IRMÃS NA NATUREZA) -  CONTO DO JAPÃO

            Uma mulher vivia com seu rico marido e sua filha. Quando chegou a época da filha casar, a mãe muito feliz e acompanhou a filha em uma viagem pelas montanhas, rumo à casa de seu futuro marido. A moça ia de carruagem, mas a mãe e os amigos e parentes, iam ao lado caminhando , cantando e rindo.
De repente, uma nuvem escura caiu do céu  e rodeou a carruagem. Todos fugiram, temendo que fosse um mau espírito, mas a nuvem dissipou-se rapidamente. Contudo a noiva sumira da carruagem!
- Minha filha ! Onde está minha filha, gritava a mãe.
- Um demônio a raptou! Exclamaram todos. Devemos correr.
Mas onde está minha filha? Tenho que encontrá-la, dizia a mãe.
Seus amigos  levaram-na com eles para longe da montanha.
De volta à aldeia, a mãe não conseguia ter paz. Só pensava na filha. Embrulhou um saco de arroz para comer, vestiu roupas quentes, calçou sapatos resistentes e partiu na direção da montanha. Andou por todo o dia chamando pela filha. Quando caiu a noite, ela estava exausta. Viu uma luz a certa distância e foi na direção, esperando encontrar abrigo para aquela noite. Encontrou um templo e quando chegou perto, uma monja apareceu à porta.
- Reverenda senhora, estou longe de casa e muito cansada. Posso passar esta noite aqui? A monja levou-a para dentro e disse: - não tenho alimento para oferecer, mas pode dormir aqui. Ela deitou-se e a monja cobriu-a com o seu manto.
- Você está em busca de sua filha?, perguntou a monja suavemente. Eu sei o que lhe aconteceu e como você poderá encontrá-la. Ela foi raptada por um demônio que vive do outro lado do rio que passa aqui perto. Para atravessar o rio, você deve usar a ponte mágica, chamada Ponte do Ábaco. Ela é feita de contas, e se você pisar em uma delas, você cairá no local do nascimento e morrerá. Pise corretamente. Para entrar no castelo do demônio, você deve passar por dois cães de guarda, um grande e um pequeno. Porém, eles são selvagens e a matarão se a pegarem. Mas todas as tardes os cães dormem um pouco e você poderá entrar a salvo no castelo.
- Obrigada, senhora monja, disse ela e adormeceu.
Pela manhã, despertou e descobriu que estva no meio da campina, sem templo e nem monja por perto. Só o que havia era um pagode de pedra. Ela adormecera com a cabeça sobre o pagode.
Será que sonhei, pensou ela, mas e o templo e a monja? Espiou à sua volta e viu um rio. Atravessando-o em forma de arco havia uma ponte feita de contas e do outro lado, bem longe o castelo com os cães na entrada, exatamente como a monja descrevera.
Então não foi um sonho, agora sei onde minha filha está.
Ela esperou pacientemente os cães adormecerem e atravessou a ponte , tomando cuidado de não pisar nas contas. Passou pelos cães adormecidos e entrou no castelo do demônio.
Começou a procurar pela filha, mas o lugar era muito grande. Então, ouviu um barulho de tear, foi ver  quem estava fiando e encontrou a filha. Se abraçaram e choraram muito.
- Vim salvá-la, disse a mãe.
- O demônio desse castelo me raptou, mas ele e seus servos estão sempre fora durante o dia. De repente ouviram um barulho muito grande e era a demônio chegando. Os cães começaram a latir e ela nem teve tempo de preparar uma refeição para a mãe. Pegou a mãe e mandou que ela entrasse numa caixa de pedra para ficar segura e trancou a tampa com cadeado.
O demônio aproximou-se e começou a farejar desconfiado. – Sinto cheiro de humano por aqui.
- Claro que sim, disse ela, eu sou humana.
- Não seja boba, sinto cheiro de outra pessoa.
- Você deve estar enganado, disse a moça, como alguém passaria pelos cães selvagens ou cruzaria a ponte do Ábaco?
- Você está escondendo alguém, disse ele e caminhou para o seu jardim onde havia uma planta mágica que abria uma flor para cada pessoa que estivesse no castelo. Ele viu que havia três flores e voltou enfurecido dizendo que ela estava mentindo, porque tinha mais gente lá, pois a flor não se enganava. Ela apavorada, teve uma idéia rápido, disse: - a flor corresponde ao bebê que espero.
- O quê??? Gritou ele de alegria, vou ser pai!!! Abram vinho, toquem os tambores. Começou a beber com seus súditos e escravos, atacou os dois cães e matou-os. Logo todos estavam bebados e dormiam.
- Ele pediu para a esposa colocá-lo na caixa de madeira e fechar as sete tampas e trancar os sete cadeados. Ela fez isso e depois libertou a mãe.
As duas correram para fora do castelo em direção ao estábulo, para pegar cavalos para fugir, mas na cocheira encontraram duas carruagens uma para mil e outra para dez mil milhas. Qual usaremos? Falou a mãe. De repente a monja apareceu e disse que deviam pegar um bote e escapar pelo rio. As duas correram para o rio, saltaram dentro de um bote e começaram a remar com muita força. Porém o demônio acordou e pôs-se a chamar pela esposa para que levasse água para ele. Mas como ela não aparecia começou a quebrar a caixa e conseguiu sair.
Ela deve ter escapado, pensou. Despertou os servos e foram ao estábulo, mas as carruagens estavam lá. Correram até o rio, e viram as duas no bote.
- Lá está ela, desgraçada! Mas está com alguém. Eu sabia que havia outro humano no castelo.
O demônio mandou que seus servos bebessem a água do rio, para que elas não escapassem. A medida que eles bebiam a água, o bote ia voltando em direção da margem onde eles estavam.
- Estamos perdidas! Disse a moça para sua mãe. Subitamente, apareceu a monja dentro do bote, e disse: - levantem as saias, ela ordenou. Exibam as partes íntimas para o demônio e, assim, as três começaram a levantar os quimonos e a pular dentro do bote feito loucas.
Ao ver a cena o demônio e seus servos desandaram a rir e começaram a cuspir a água que tinham bebido e a medida que  cuspiam a água em torrente levava  bote  rio abaixo. Logo as três estavam a salvo.
- Reverenda monja, falou a mãe. Você salvou nossas vidas o que podemos fazer para agradecer-lhe?
- A monja parou um momento, e disse:  Vocês podem fazer algo por mim. Eu sou o espírito do pagode de pedra da campina. Sinto-me muito só e, assim vocês podem todos os anos trazer um novo pagode até a clareira e colocarem perto do meu, aí eu terei companhia. Falou e desapareceu.
Mãe e filha retornaram para sau casa e, todos os anos, levavam um pagode de pedra para a campina e, em razão disso, o local se transformou numa comunidade da montanha. E elas viveram felizes em poder agradecer de terem se salvado!