quinta-feira, 30 de abril de 2009

A esposa guerreira - um conto do povo Tiwa


Em uma tribo, havia muito tempo, viviam uma mulher e seu marido. O pai da mulher era o chefe, e seu marido era um guerreiro chamado Falcão Azul.
Um dia, Falcão Azul partiu numa expedição de guerra com seu melhor amigo, Falcão Vermelho. Quando estavam a caminho, Falcão Vermelho disse: - Você está deixando sua mulher sozinha. Aposto como ela vai dormir com outro homem hoje à noite.
Falcão Azul balançou a cabeça, e disse: - Minha esposa é fiel a mim e eu confio nela.
Falcão Vermelho, que não era casado, riu e disse: - Aposto como posso voltar e dormir com sua mulher hoje à noite.
Falcão Azul ficou indignado: - Você está enganado.
Falcão Vermelho disse: - Aposto tudo o que eu tenho como consigo dormir com sua esposa hoje à noite.
Relutando Falcão Azul concordou com a aposta, e os dois empenharam seus cavalos, armas e roupas, além de todas as suas posses, nesta aposta.
Falcão Vermelho voltou e rodeou a esposa de Falcão Azul o dia inteiro, sorrindo para ela, mas ela o ignorou. Ele pensou: - Ela é mesmo fiel a Falcão Azul. Desesperado porque ia perder a aposta, foi procurar ajuda de uma mulher mais velha e explicou-lhe a aposta e prometeu pagar –lhe generosamente por sua ajuda. Você, disse à velha, só precisa descobrir como é a esposa de Falcâo Azul sem roupas. Se eu ficar sabendo a aparência dela poderei dizer que dormi com ela.A mulher concordoui e foi até a tenda da esposa de Falcão Azul. Aproximou-se com cara de cansada e abatida e falou se a moça poderia ajudá-la. A moça ficou com pena da velha e lhe disse para entrar e descansar.
Obrigada, disse a velha. Estou longe de casa e não tenho aonde passar esta noite. A moça logo lhe disse que poderia pasar a noite com ela.
Quando veio a noite, ela ofereceu à velha peles macias e cobertas. A velha fingiu que dormia, mas ficou olhando com atenção quando a esposa se despiu para dormir. Ela escovou um tufo de cabelos dourados que crescia em seu abdome, trançou-os e enrolou em torno da cintura por cinco vezes. A velha viu também que ela tinha uma marca de nascença nas costas.
Na manhã seguinte, a velha agradeceu e depois correu até onde estava Falcão Vermelho para lhe contar o que tinha visto. Este riu deliciado e cavalgou até onde se encontrava Falcão Azul e disse: - Ganhaei a aposta! Na noite passada dormi com sua esposa.
Falcão Azul recusou-se a acreditar, mas Falcão Vermelho descreveu a trança de cabelos dourados e a marca de nascença e ele não pode mais duvidar.
Agora, disse Falcão Vermelho, você tem que me dar o que prometeu. O outro não disse nenhuma palavra, deu-lhe tudo o que possuia.
A esposa não entendia o que se passava e perguntou –lhe o que estava fazendo. Ele ficou em silêncio, saiu da tendsa, e com peles de animais fez um baú onde colocou utensílios, dinheiro e alimentos. Depois disse à mulher que iria fazer uma viagem pelo rio e queria que ela viesse com ele. Ele lhe pediu que vestisse o que tinha de mais belo e depois entrasse no baú. Quando ela fez o que ele pedira, ele amarrou o grande pacote, encaminhou-se para o rio e jogou-o na água.
Depois, voltou sozinho para a aldeia, e quando os vizinhos perguntaram onde estava sua esposa ele recusou-se a responder. Após alguns dias, o chefe ficou preocupado com a filha e perguntou a Falcão Azul onde ela estava. Como este continuasse calado, o chefe ordenou que um buraco fosse cavado até o inferno e jogou Falcão Azul nele.
Enquanto isso, a esposa flutuava rio abaixo dentro do baú. Um homem que estava pescando viu aquele grande embrulho, puxou-o para a margem e o desamarrou, descobrindo assim,a esposa que saiu apavorada. Ela pediu ao homem que troucassem de roupa, e ele concordou, assim ela ficou vestida de homem e eentão, dirigiu-se a uma aldeia das redondezas.
Uma expedição de guerra estava se preparando para partir, e a moça uniu-se ao grupo. Os jovens guerreiros comentavam entre eles de comoo desconhecido tinha rosto de mulher. Um deles resolveu fazer amizade com ela para tirar a dúvida e descobrir mesmo se ela era mulher.
Naquela noite, quando o grupo acampou, ela armou sua tenda longe dos outros. Disse que era Xamã e explicou que era preciso proteger o seu poder para o ataque que viria. Mostrou aos homens a pedra sagrada de águia branca e disse que sua cura vinha do sol. Quando todos se recolheram para dormir, um guerreiro veio até ela e pediu-lhe licença para dormir na sua tenda. Ela recusou, mas ele tanto insistiu que ela deixou e, assim deitarm em lados opostos da tenda.
No meio da noite, o jovem chegou até ela e quis tocá-la, mas ela estava de guarda . – O que está fazendo?, ela perguntou e ele desistiu.
Na noite seguinte, outro jovem pediu para dormir na sua tenda e também tentou tocá-la, mas ela estava acordada e frustou a tentativa do rapaz.Na última noite , a expedição aproximou-se do teritório inimigo, e eles instalaram suas tendas. Ela disse aos homens que permanecessem dentro das tendas, enquanto ela usava seu poder de cura. Ela pegou um pacote de feitiçaria e fez o feitiço, e, instantaneamente, todos os guerreiros inimigos morreram. Ela deu um grito de guerra e acordou a todos que saíram atordoados de suas tendas, pensando que estavam sofrendo um ataque.
Matei o inimigo, ela declarou. Vou sair agora para tomar seus escalpos e armas. Saltou no lombo do seu cavalo, foi até o acampamento do inimigo e voltou com sus troféus. Os homens ficaram estupefatos. Pensaram que ela só podia ser um homem para agir assim matando os inimigos sozinha. O grupo retornou para sua aldeia e os jovens cantaram em homenagem ao valor da “guerreira” . O chefe da tribo quis oferecer-lhe uma festa, mas ela não aceitou.
- Estou voltando para minha tribo e desejo chegar depressa. O chefe ofereceu escolta, mas ela só pediu um cavalo e ele deu-lhe o melhor que havia. Ela começou a viagem de regresso e, a caminho de casa, ainda disfarçada de homem, encontrou-se com um grupo de sua própria tribo. – Quais são as novidades, ela perguntou. Eles lhe contaram a história de Falcão Vermelho com Falcão Azul, e acrescentaram que Falcão Vermelho tinha visto os cabelos dourados no seu ventre e a marca de nascença dela.Disseram que Falcão Azul tinha matado a esposa infiel e que o pai dela, o chefe jogara Falcão Azul num buraco. Ela entendeu tudo.
Ela voltou à aldeia e mostrou todos os escalpos e as armas que conquistara. Então despiu suas roupas de guerra e revelou-se a todos. Contou que Falcão Azul a trancara num baú e jogado rio abaixo, porque pensava que ela havia sido infiel, mas ele foi enganado , ela declarou.
Explicou que Falcão Vermelho e a velha deviam ter sido cúmplices na trama contra ela, então ordenou que Falcão Azul fosse libertado do poço. Ele estava pálido e muito magro, mas quando viu a esposa correu para os seus braços.
Ela dirigiu-se aos membros de sua tribo, e disse: - Agora devemos punir Falcão Vermelho e a velha. Pediu que eles fossem trazidos à sua presença e, para puní-los colocou-os amarrados na carruagem com cavalos selvagens para que fossem arrastados até morrer.
Toda a tribo fez uma festa para celebrar o retorno da valente esposa de Falcão Azul e, daí em diante eles viveram muito felizes.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Duas fábulas de Esopo


A Lebre e as Rãs

Dentro de sua toca, uma lebre refletia sobre a vida ( O que fazer numa toca , senão refletir?)
--- As pessoas medrosas são bem infelizes – pensava.--- Não aproveitam a vida. Sempre sustos, alarmes, desassossegos. É assim que eu vivo.
Esse medo maldito só me deixa dormir de olhos abertos.
Lembrou-se então de amigos que lhe diziam: “corrija-se”.
--- É fácil de dizer. O medo não corrige. Creio mesmo, sinceramente, que os seres humanos também têm medo.
Ao mesmo tempo que pensava, a lebre vigiava o que se passava ao seu redor: um sopro, uma sombra, tudo a apavorava.
Meditando assim, ouviu um pequeno ruído. Foi o sinal para sair correndo.
Perto, havia um brejo onde moravam muitas rãs. Estas, ao som de um animal se aproximando, atiraram-se no brejo, buscando abrigo nas grotas profundas.
-Oh! -- disse a lebre. – Pus tudo em debandada! Será possível que eu também amedronte alguém? Há animais que tremem diante de mim?
Nem podia acreditar.
--- É... convenceu-se afinal. – Não há covarde neste mundo que não possa encontrar outro covarde maior.

A RAPOSA E A CEGONHA

Um dia a raposa convidou a cegonha para jantar.Querendo pregar uma peça na outra, serviu sopa num prato raso. Claro que a raposa tomou toda a sua sopa sem o menor problema, mas a pobre cegonha com seu bico comprido mal pôde tomar uma gota. A raposa fingiu que estava preocupada, perguntou se a sopa não estava do gosto da cegonha, mas a cegonha não disse nada. Quando foi embora agradeceu muito a gentileza da raposa e disse que fazia questão de retribuir o jantar no dia seguinte.
Assim que chegou à casa da cegonha, a raposa se sentou lambendo os beiços de fome, curiosa para ver as delícias que a outra ia servir. O jantar veio para a mesa numa jarra alta, de gargalo estreito, onde a cegonha podia beber sem o menor problema. A raposa, amoladíssima, só teve uma saída: lamber as gotinhas de sopa que escorriam pelo lado de fora da jarra.
Ela aprendeu muito bem a lição. Enquanto ia andando para casa, faminta, pensava: “Não posso reclamar da cegonha. Ela me tratou mal, mas fui grosseira com ela primeiro”.
Trate os outros como deseja ser tratado.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Símbolos nos Contos de Fadas



Símbolos ou Elementos Simbólicos, são termos ou nomes, ou mesmo uma imagem, que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações especiais além do seu significado evidente e convencional.
Ex: Leões, águias, bois que aparecem muitas vezes ornamentando Igrejas são símbolos que provém de uma visão de Ezequiel, são símbolos evangelistas.
A Roda e a Cruz também têm significado simbólico sob certas condições..
Assim, podemos dizer, que uma palavra ou uma imagem é Simbólica, quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto imediato.
O Homem também produz Símbolos, inconscientes e espontaneamente, na forma de Sonhos.
Símbolo significa sempre mais do que o seu significado óbvio. Eles são produtos naturais e espontâneos, eles podem ter natureza Individual e Coletiva (imagens religiosas)
**** Não podemos confundir Símbolos com Sinais porque Sinais só servem para indicar objetos a que estão ligados. Ex: Sinal de trânsito; Faixas de travessia, etc.

Nos Contos de Fadas, há sempre dois mundos:
O da Normalidade costumeira
O da Magia, do desconhecido, do Maravilhoso.
Transpondo esses dois mundos para nosso interior, temos:

Consciente---- representado pela normalidade.
Inconsciente --- representado pelo maravilhoso, a magia, o desconhecido.

Nos Contos vamos encontrar a relação estabelecida entre Consciente e Inconsciente, através dos contrastes que neles aparecem,como:

HERÓI HEROÍNA
São os que participam da ação. Geralmente são pobres, jovens, fracos, desajeitados (quase sempre o filho mais jovem é quem vai solucionar os problemas através das tarefas a ele impostas, sendo chamado de Parvo ou Simplório) Os Heróis não têm características definidas, podendo ser bons, tristes, maus, felizes, bonitos, feios. Vão representar nos Contos, assim como nos Mitos, o” Rito Iniciático”, ou seja, saem em busca de resoluções ou a procura do amado, quase sempre respeitando ordens do pai ou da madrasta.
Ao final, quando vitoriosos, voltam ao seu mundo real.
É esta busca que Jung chama de Individuação, a busca do Si-mesmo, do Self, tão importante para a sobrevivência na vida adulta.
O Self , é o Si-mesmo e representa a Totalidade da Psique. Ele emerge da Consciência Individualizada do Ego a medida que o indivíduo cresce.
Por isso, Jung chamou Rito de Passagem esta mudança de uma idade para a outra concluída pela Individuação e maturidade na vida adulta. A cada fase o homem vai buscando esse Si-mesmo até ter o seu Self definido pela totalidade da sua psique.
O verdadeiro processo de Individuação, ou a Harmonização do Consciente com o nosso centro interior (núcleo psíquico) ou Self, começa exigindo um certo sofrimento, principalmente na fase da adolescência que são grandes as transformações e é sempre aí que aparece o Herói dos Contos e Mitos buscando o seu Si-mesmo, através de tarefas impostas a ele e nem sempre fáceis de cumprir.


segunda-feira, 6 de abril de 2009

A GUARDADORA DE GANSOS



Era uma vez uma velha rainha, cujo marido morrera muitos anos atrás.
Ela tinha uma linda filha. Quando chegou a época desta filha se casar, teve que viajar para um país estrangeiro. A mãe deu-lhe jóias preciosas e tesouros.
Foi designada uma dama de companhia para acompanhá-la. Cada uma delas recebeu um cavalo para a viagem, mas o da princesa podia falar e chamava-se Falada.
Na hora de partir, a mãe foi ao quarto, pegou uma faquinha e deu um corte num de seus dedos até sangrar, depois deixou três gotas caírem no lenço, deu-o a filha, e disse-lhe:
- Guarde-o com cuidado, querida filha, pois será de muita utilidade para você durante a viagem.
Elas partiram e depois de uma hora de viagem, a princesa teve sede e pediu à ama que lhe trouxesse água de um regato, na sua taça de ouro. A criada recusou, e tomou a taça da princesa, dizendo-lhe que descesse e bebesse no rio, e que também não seria mais sua criada.
Quando a princesa debruçou-se para beber água, deixou cair o lenço e o perdeu. Ao perdê-lo ficou fraca, sem forças. A criada tirou partido disso e forçou a princesa a trocar os cavalos e as roupas, fazendo-a jurar que não contaria esta troca para ninguém da corte.
Na chegada da duas, tomaram a criada pela noiva princesa.
Interrogada sobre a companheira, a criada disse ao velho rei que desse algum trabalho para ela fazer, e a princesa foi designada para ajudar um menino guardador de gansos.
Logo depois, a falsa noiva pediu ao jovem príncipe, seu noivo, o favor de mandar cortar a cabeça de Falada, porque temia que ele revelasse sua ação malvada.
Isto foi feito, mas a cabeça do cavalo, graças as súplicas da verdadeira princesa, foi colocada sobre um portão negro pelo qual ela tinha de passar todos os dias quando guardava os gansos.
Todas as manhãs, quando ela passava junto com o garoto pelo portão, ela cumprimentava a cabeça de Falada com grande pena, ao que a cabeça replicava:
- “Se sua mãe soubesse diso, seu coração se partiria ao meio”.
Nos prados, a princesa soltava os cabelos. Como eram semelhantes a puro ouro, o menino foi tentado a arrancar um punhado deles, o que a princesa impediu chamando o vento, que soprou o chapéu dele para longe, fazendo-o correr atrás. O mesmo se repetiu por dois dias seguidos o que aborreceu o menino, que foi queixar-se ao velho rei.
No dia seguinte, o rei escondeu-se atrás do portão e observou tudo. A tarde a princesa voltou com os gansos ao castelo, o rei perguntou-lhe sobre as coisas que vinham acontecendo.
Ela lhe disse então que estava presa a uma promessa de não contar nada para nenhum ser humano. Assim, ela resistiu a tentação de revelar sua história, mas finalmente resolveu contar tudo para a lareira, mas o velho rei estava escondido atrás e escutou toda a história.
Depois disso, o rei deu-lhe roupas reais, e todos foram convidados para uma grande festa na qual a verdadeira noiva sentou-se num dos lados do jovem príncipe e a impostora do outro. No final da refeição, o velho rei perguntou à impostora qual seria o castigo para uma pessoa que tivesse agido de forma cruel e descreveu a história que tinha acontecido. Ela não sabendo que tinha sido descoberta respondeu:
“Ela merece ser colocada nua, dentro de um barril forrado de ferros pontiagudos e dois cavalos bravos deveriam arrastar esse barril pela cidade até que ela morresse.”
O velho rei, olhando-a disse:
Essa pessoa é você! Você decretou sua sentença e é isso que acontecerá.
Quando a sentença foi cumprida o príncipe casou-se
com a verdadeira noiva e foram muito felizes.