O filho do rei, estava jantando, quando cortou o dedo e uma gota de sangue caiu na ricota que comia. Disse ele à mãe:
Mãe, eu gostaria de ter uma mulher branca como o leite e vermelha como o sangue.
Meu filho, quem é branca não é vermelha e quem é vermelha não é branca. Mas tente encontrá-la.
O rapaz, pôs-se a caminho. Anda que anda, encontrou uma mulher que perguntou-lhe: “Rapaz, aonde vais?”
Ele repondeu: Vou dizer logo à você, que é mulher?
Anda que anda, encontrou um velhinho que perguntou-lhe: “Rapaz, aonde vais?”
Para o senhor posso dizer, avozinho, pois certamente há de saber mais do que eu. Procuro uma mulher branca como o leite e vermelha como o sangue.
O velhinho lhe disse: “Meu filho, quem é branca não é vermelha e quem é vermelha não é branca. Porém, pegue estas três romãs. Abra-as e veja o que sai de dentro delas. Mas só o faça perto de uma fonte.
Assim fez o jovem, abriu uma romã e de dentro dela pulou uma linda moça branca como leite e vermelha como o sangue, que logo gritou:
Rapazinho dos lábios de ouro
Dê-me de beber, senão eu morro.
O rapaz pegou água com a concha das mãos e ofereceu-lhe, mas não o fez em tempo e a linda moça morreu.
Logo ele abriu outra romã e dela pulou outra linda jovem, mais bela ainda, que disse:
Rapazinho dos lábios de ouro
Dê-me de beber senão eu morro.
Novamente não deu tempo dele levar a água e a moça morreu.
Muito preocupado, abriu a terceira romã e dela saiu outra belíssima moça. O jovem então, jogou água em seu rosto e ela sobreviveu. Porém, ela estava nua e o jovem colocou o seu casaco nos ombros dela dizendo: - Suba nesta árvore, pois vou buscar roupas para vestí-la e uma carruagem para levá-la ao palácio.
A moça subiu na árvore perto da fonte. Mas, naquela fonte, todos os dias, ia buscar água a Feia Sarracena. Ao pegar a água neste dia ela viu o rosto da moça que estava na árvore, refletido na água.
E terei eu, tão delicadinha,
De vir atrás da água com essa tigelinha?
E, sem pensar em mais nada, jogou a bilha no chão, fazendo-a em pedaços e voltou para casa.
Sua patroa chamou-a. “Feia Sarracena, como se atreve a voltar para casa sem água e sem a bilha?” Deu-lhe outra bilha e mandou que ela voltasse à fonte. Novamente,ela viu o belo rosto refletido na água e pensou: “ Ah! Sou linda mesmo!!!”
E terei eu, tão delicadinha,
De vir atrás da água com a tigelinha?
Mais uma vez jogou a bilha no chão. A patroa voltou a repreendê-la e fez com que voltasse novamente à fonte, mas aí, a moça que estava sempre quieta começou a rir quando ela quebrou mais uma bilha.
A Feia Sarracena ergueu os olhos e a viu.
Ah, era você? E me deixou quebrar três bilhas? Porém, és realmente muito bonita, gostaria de penteá-la.
A moça não quis descer da árvore, mas a Feia Sarracena insistiu. Deixe penteá-la, pois ficará mais bonita ainda!
Fez com que a moça descesse, soltou-lhe os cabelos, viu que trazia um alfinete na cabeça. Pegou-o e espetou-o numa orelha. Caiu uma gota de sangue da moça e depois ela morreu. Mas a gota de sangue, assim que tocou o chão, transformou-se numa bela pombinha que saiu voando.
A Feia Sarracena foi empoleirar-se na árvore. O filho do rei regressou com o vestido e a carruagem, mas assim que a viu, disse:
Você era branca como o leite e vermelha como o sangue, como é que ficou tão negra???
E a Feia sarracena respondeu:
O sol apareceu
E essa cor me deu.
O rapaz perguntou, como é que mudou de voz?
E ela:
Deu uma ventania
Que provocou minha afonia.
E o rapaz:
Mas você era tão linda e agora está tão feia!
E ela:
Também a brisa soprou
E a beleza me carregou!
O rapaz deu-lhe um basta, colocou-a na carruagem e levou-a para casa.
Desde o momento em que a Feia Sarracena instalou-se no palácio, como a esposa do filho do rei, a pombinha pousava todas as manhãs na janela da cozinha e perguntava ao cozinhairo:
Ó cozinheiro, cozinheiro que dá pena,
Que faz o rapaz com a Feia Sarracena?
- Come, bebe e dorme. Respondia o cozinheiro.
E a pombinha:
Um belo prato de sopa pra pombinha,
E plumas de ouro pro mestre da cozinha.
O cozinheiro lhe dava um prato de sopa e a pombinha dava uma sacudidela, fazendo cair as penas de ouro. Depois levantava vôo.
Na manhã seguinte retornava:
Ó cozinheiro, cozinheiro que dá pena,
Que faz o rapaz com a Feia Sarracena?
Novamente o cozinheiro dava a mesma resposta.Come, bebe e dorme. Mais uma vez ela pedia a sopa e deixava sua penas de ouro para o cozinheiro.
Passado algum tempo, o cozinheiro foi até o filho do rei e lhe contou tudo. O rapaz ouviu e lhe disse:
Amanhã, quando a pombinha voltar, agarre-a e traga para mim, pois quero tê-la comigo.
A Feia Sarracena, que ouvira tudo às escondidas, achou que aquela pombinha não era um bom augúrio, e, quando na manhã seguinte, ela tornou a pousar na janela da cozinha, a Feia Sarracena foi mais rápida que o cozinheiro, e atravessou-a com um espeto e a matou.
A pombinha morreu. Porém, uma gota de sangue caiu no jardim, e, naquele lugar logo nasceu uma romãzeira.
Essa árvore possuía a virtude de salvar quem estivesse para morrer. Bastava comer uma de suas romãs e a pessoa se curava. Havia sempre uma grande fila de pessoas que iam pedir ajuda à Feia Sarracena, ou seja, ganhar uma fruta de esmola.
Acabou que na árvore só restou uma romã, a maior de todas, e a Feia Sarracena disse: “Esta vou guardar para mim.”
Apareceu no palácio uma velha, que lhe pediu aquela romã, porque o seu marido estava morrendo.
A Feia Sarracena disse-lhe que só lhe restava uma e ela queria guardar para enfeite. Porém, o filho do rei interveio dizendo: “ Pobre mulher, seu marido está à morte, tens que dar a romã para ela.
Assim, a velha voltou para casa com a romã e viu que seu marido já estava morto. Pensou então: “Vou guardar esta romã de enfeite!”
Todas as manhãs, a velha ia à missa. Enquanto estava na missa, a moça saía da romã, acendia o fogo, varria a casa, fazia a comida e arrumava a mesa. Depois voltava para dentro da romã. A velha, quando chegava em casa e achava tudo pronto não conseguia entenderr nada.
Certa manhã, confessou ao padre, tudo que acontecia em sua casa, e este lhe disse:
Sabe o que deves fazer? Amanhã, finja que sai para a missa e se esconda em casa. Assim, descobrirá quem é responsável por tudo isso. A velha fez o que o padre mandou, observou tudo, mas não deu tempo da moça entrar na romã.
De onde vens? Perguntou a velha.
E ela: Tenha piedade, não me mate, não me mate.
Não a mato, mas preciso saber de onde vens.
Vivo dentro desta romã... e lhe contou toda a história.
A velha a vestiu de camponesa, e no domingo, levou-a à missa.
O filho do rei também estava na missa e a viu, pensou então: “Ó Jesus! Parece-me que aquela é a jovem que encontrei na fonte”. Ele esperou a velha no fim da missa e perguntou:
Diga-me de onde vem aquela jovem?
Não me mate, pediu a velha.
Não tenha medo. Quero apenas saber de onde ela vem.
Veio da romã que vossa magestade me deu.
Também ela numa romã? Exclamou o rapaz e dirigiu-se à jovem.
Como você foi parar dentro de uma romã, perguntou-lhe.
A moça então, contou-lhe toda a história.
Ele regressou ao palácio junto com a moça e lhe pediu que contasse tudo diante da Feia Sarracena.
Ouviu bem, disse ele à Feia Sarracena ao final do relato da moça. Não quero ser eu a condená-la à morte. Escolha você sua própria sentença.
A Feia Sarracena vendo que não havia escapatória, disse:
Mande fazer uma camisola de piche para mim e me queime no meio da praça. Assim foi feito.
O filho do rei, então, conseguiu ser feliz com a linda moça, desposando-a e tendo com ela vários filhos.
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